sexta-feira, 4 de março de 2011

Dia 12: "Mistério sempre há de pintar por aí... se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais"

Devo me concentrar nas coisas mais simples que se passam por aqui. Claro que minhas impressões são relativamente precárias afinal só vejo as formas e vultos da realidade... costumo dizer que meu convívio aqui é com uma relação mediada. O que sei é o que Diana me conta e o que consigo perceber e sentir.

Anteontem foi o dia em que se comemora nascimento de Shiva, uma divindade do hinduísmo. Pedimos autorização à médica para ir a um templo a 1km daqui. Fomos caminhando pela rua estreita nos desviando dos riquixás que passavam apressados e frequentemente na contramão.

Chegamos ao templo e encontramos alguns sacerdotes arrumando tudo para o ritual. Quando perguntamos se podíamos entrar, nos disseram com palavras soltas em inglês e muitos gestos que não poderia entrar de bermuda: precisava usar o traje tradicional masculino, o “dhoti”, uma espécie de lençol enrolado na cintura e sem camisa. Frustrados com a possibilidade de não podermos entrar, experimentamos rapidamente a hospitalidade típica indiana: um dos sacerdotes me puxou pelo braço por uma entrada lateral, procurou um dhoti no armário e enrolou em minha cintura. Tiramos as sandálias.

Em alguns minutos estávamos prontos para nos misturar à multidão local no pátio interno do templo, andando ao redor do templo interno e parando em cada um dos altares, o de Ganesha e o de Shiva. O cheiro era muito bom e o local estava decorado com flores alaranjadas e pequenas chamas de fogo. Como nos mostrávamos um pouco confusos sobre como prosseguir próximos ao altar de Shiva e enquanto tentávamos fazer uma oferenda, um devoto abriu espaço entre as pessoas e me puxou pelo braço para que eu me aproximasse ainda mais do altar, fizesse a oferenda e recebesse nas mãos uma folha que continha pequenas folhinhas e uma pasta muito cheirosa com a qual pintaríamos a testa. A partir daí, este devoto passou minha bengala para Diana e passou a me conduzir segurando com força o meu braço, enquanto me levava pelo caminho a percorrer, altares onde parar e até por onde sair do templo no final.

Acredito que ter sido conduzido só FOI possível por ser deficiente visual e por SER CONSIDERADO alguém que merece ajuda por essa CONDIÇÃO. Pelo que entendi cuidar de quem precisa agrada aos Deuses.

Na volta, tentávamos pegar um riquixá sem sucesso, quando mais uma vez contamos com a solidariedade de outros: duas americanas do hospital passaram de riquixá, nos viram e pararam, oferecendo para nos apertarmos no pequeno carro, Diana atrás com elas e eu na frente com o motorista, meio pendurado.

A ida ao templo foi um momento muito especial e bonito. Uma pena que não pudemos tirar fotos dentro do templo. No post, algumas imagens que fizemos do lado de fora. Mais aqui: http://www.flickr.com/photos/diaguiar/sets/72157626193421880/

Aqui os dias se passam de forma disciplinada, tento manter minha mente o mais serena possível e quando o desespero bate, lembro das mensagens tão belas que chegam desejando coisas boas pra mim, de todos que contribuíram para que estivesse aqui... respiro fundo e sinto minhas energias renovadas.


4 comentários:

  1. Salve, Daniel!
    Tchê, as tuas palavras e situações e vivências e reflexões são um estímulo para mim, também.
    Sigas sempre assim que estou na torcida por ti. Falous?!?
    Abraçãosãos e hablamos,
    mAuro

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  2. Alô!
    Muito legal o seu blog e a sua vivência, Daniel! Tenho acessado sempre que eu posso.
    Obrigado por dividir as suas experiências!
    Um abraço e muita luz nessa caminhada!

    Felipe

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  3. Daniel, não tive a oportunidade de te conhecer pessoalmente...logo, desculpe a ousadia em entrar no blog, estou aqui com David torcendo por vocês.
    Obrigada por compartilhar essa experiência forte de forma tão leve e poética conosco, um prazer te conhecer, mesmo de longe.
    Beijo grande pra você e pra Baiana.
    Luila

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  4. obrigada por nos encaminhar em suas caminhadas, é belo demais...amo voc~es, sinto saudades e sinto novos ares,os sorrisos de vocês sintetizam sua fé e nos mostram a força dos dois

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