segunda-feira, 21 de março de 2011
Em fim, um novo começar! "Nada a temer senão o correr da luta. Nada a fazer senão esquecer o medo..."
sábado, 19 de março de 2011
Dia 27: a estranha mania de ter fé na vida...
segunda-feira, 14 de março de 2011
Dia 22: "Se o que eu sou é também o que eu escolhi ser... aceito a condição"
Começo a contar o tempo para ir embora. Os dias continuam muito parecidos: horas agoniadas de tratamento, esperar a hora de cada refeição como uma criança faminta, consultas matinais com doses de gratidão e ansiedade, buscar programas de rádio que tenham boa conexão, prestar atenção na respiração pois assim o tempo passa mais depressa e ajuda a ficar mais sereno...
Esta breve tabulação de afazeres e sensações não fala sobre Mustafá, o atendente do restaurante que sempre pergunta com um inglês de difícil compreensão: ”you happy?”, da médica tão risonha e atenciosa, dos nomes de complicada pronuncia, e das pessoas de toda parte do mundo que encontramos no refeitório... mas me deterei nisso em outra oportunidade.
As dores diminuíram bastante e agora parece que o sintoma aqui provocado é de emergir todo tipo de conflito existencial. Mesmo aqueles que acreditei já ter enjaulado num subterrâneo qualquer da mente. Acredito que aqui somos desnudados de toda confusão que montamos, tanto em nosso corpo quanto em nosso espírito. É como se fôssemos amontoando tudo que nos passa, tudo que experimentamos, seja na carne seja na alma e, pelo menos no meu caso, parece que é necessário que se ponha tudo abaixo para remontar esse conjunto amalgamado agora sem caos e fundamentalmente reconhecendo o que eu sempre fiz questão de desconhecer: meus limites.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Dia 18: "A rede do meu destino parece a de um pescador: quando retorna vazia vem carregada de dor..."
sexta-feira, 4 de março de 2011
Dia 12: "Mistério sempre há de pintar por aí... se eu sou algo incompreensível, meu Deus é mais"
Devo me concentrar nas coisas mais simples que se passam por aqui. Claro que minhas impressões são relativamente precárias afinal só vejo as formas e vultos da realidade... costumo dizer que meu convívio aqui é com uma relação mediada. O que sei é o que Diana me conta e o que consigo perceber e sentir.
Anteontem foi o dia em que se comemora nascimento de Shiva, uma divindade do hinduísmo. Pedimos autorização à médica para ir a um templo a 1km daqui. Fomos caminhando pela rua estreita nos desviando dos riquixás que passavam apressados e frequentemente na contramão.
Chegamos ao templo e encontramos alguns sacerdotes arrumando tudo para o ritual. Quando perguntamos se podíamos entrar, nos disseram com palavras soltas em inglês e muitos gestos que não poderia entrar de bermuda: precisava usar o traje tradicional masculino, o “dhoti”, uma espécie de lençol enrolado na cintura e sem camisa. Frustrados com a possibilidade de não podermos entrar, experimentamos rapidamente a hospitalidade típica indiana: um dos sacerdotes me puxou pelo braço por uma entrada lateral, procurou um dhoti no armário e enrolou em minha cintura. Tiramos as sandálias.
Em alguns minutos estávamos prontos para nos misturar à multidão local no pátio interno do templo, andando ao redor do templo interno e parando em cada um dos altares, o de Ganesha e o de Shiva. O cheiro era muito bom e o local estava decorado com flores alaranjadas e pequenas chamas de fogo. Como nos mostrávamos um pouco confusos sobre como prosseguir próximos ao altar de Shiva e enquanto tentávamos fazer uma oferenda, um devoto abriu espaço entre as pessoas e me puxou pelo braço para que eu me aproximasse ainda mais do altar, fizesse a oferenda e recebesse nas mãos uma folha que continha pequenas folhinhas e uma pasta muito cheirosa com a qual pintaríamos a testa. A partir daí, este devoto passou minha bengala para Diana e passou a me conduzir segurando com força o meu braço, enquanto me levava pelo caminho a percorrer, altares onde parar e até por onde sair do templo no final.
Acredito que ter sido conduzido só FOI possível por ser deficiente visual e por SER CONSIDERADO alguém que merece ajuda por essa CONDIÇÃO. Pelo que entendi cuidar de quem precisa agrada aos Deuses.
Na volta, tentávamos pegar um riquixá sem sucesso, quando mais uma vez contamos com a solidariedade de outros: duas americanas do hospital passaram de riquixá, nos viram e pararam, oferecendo para nos apertarmos no pequeno carro, Diana atrás com elas e eu na frente com o motorista, meio pendurado.
A ida ao templo foi um momento muito especial e bonito. Uma pena que não pudemos tirar fotos dentro do templo. No post, algumas imagens que fizemos do lado de fora. Mais aqui: http://www.flickr.com/photos/diaguiar/sets/72157626193421880/
Aqui os dias se passam de forma disciplinada, tento manter minha mente o mais serena possível e quando o desespero bate, lembro das mensagens tão belas que chegam desejando coisas boas pra mim, de todos que contribuíram para que estivesse aqui... respiro fundo e sinto minhas energias renovadas.