Por causa da intensidade da dor no corpo, a médica que acompanha meu caso decidiu parar por um tempo a terapia corporal e o shirodhara. Comecei hoje um tratamento para o sistema nervoso central e os olhos que consiste em ter os olhos mergulhados por uma hora em ghee medicado. É um tratamento incrivelmente poderoso e angustiante. Todos os remédios são feitos aqui mesmo no hospital.
A seguir, um texto que escrevi sozinho no computador com um programa para pessoas com deficiência visual. Perdoem a intensidade do desabafo.
O cansaço começa a tomar conta de mim, minha mente não consegue manter uma linha de continuidade, assim como tem sido meu sono nos últimos 9 dias... Escrever é tão difícil . Parece que o espaço do sacrifício é minha casa. Desejo sinceramente outro lugar para mim. Ainda há pouco, quando comecei a escrever esse texto, era o quinto dia. Já estou no sétimo dia. As dores aumentaram e tenho encontrado de quando em vez o limite do suportável. Devo confessar: meu desconhecimento sobre mim é abissal. Construí voluntariamente uma única opção: me entregar.
“A cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança” (Saramago)... dessa cegueira não padeço... As convicções erguidas desde há muito em mim, a sede de justiça que registrada na minha gênese, garante disposição quase infinita e uma posição no mundo de inquietude permanente que nem mesmo a cegueira consegue impor como horizonte a auto piedade deletéria em minha caminhada.
A dor não dialoga, a dor dói. Intransigente o corpo com uma mente que já se acostumou com a presença permanentemente pedagógica da dor. Com sua pedagogia desconcertante descobri que é possível detestar a aleatoriedade da vida, a odiar com ainda maior virulência a própria vida até desejar o fim de tudo... mas a tal gênese que rejeita ação do mundo como destino inevitável me impulsionou a buscar cada gota da seiva da vida como possibilidade de amor e esperança.
(Foto na varanda do nosso quarto no dia em que chegamos)